Natureza Adentro – Mutualismos
Esta série de seminários caminhados no Parque Nacional da Peneda-Gerês tem como objectivo principal a produção de conhecimento pela experiência das coisas. Ao adoptarmos este título evocamos as múltiplas interdependências e os benefícios simbióticos da coexistência entre humanos e não-humanos em áreas protegidas. No entanto, fazemos igualmente reconhecer que os Parques Nacionais são territórios de múltiplas vidas em concrescências nem sempre simbióticas ou facilitadas.
As áreas protegidas (AP) são territórios complexos. Territórios de vida, de usos, de experiências, de coabitações, de interesses, de simbioses e mutualismos, de predações e de abusos. Tal como qualquer lugar de vida, as AP são evolutivas, transformativas, dinâmicas – produto e contribuintes para uma história social e natural do Planeta. São igualmente contextos apropriados pelos humanos que sobre eles projectam perspetivas distintas sobre o que é a natureza, a conservação, o fogo, a água, o extrativismo, o pastoreio, o turismo, a floresta, a agricultura, o lugar do humano nas AP, entre muitos outros temas que marcam a agenda política da Conservação da Natureza e as Alterações Climáticas. Constituem igualmente lugares e representações não consensuais – nos quais, por exemplo, os direitos de propriedade comunitária ou individual são postos em causa.
Inspirados nas modalidades peripatéticas de produção de conhecimento e em epistemologias tácteis, pretendemos, com estes seminários, em momentos de contacto experiencial directo com elementos da realidade estudada, conhecer e aprender caminhando, fomentando a transdisciplinaridade como prática e pensamento de partida, de prossecução e de chegada.
Os seminários estimularão o envolvimento de todos os envolvidos, de várias áreas de saber (não só académicos) em processos de coprodução de conhecimento, sustentados nos actos de caminhar e no contacto sensorial com elementos bióticos e abióticos – concebidos neste âmbito pela sua ‘agencialidade’ – ou seja, como ‘agentes’ que estimulam e suscitam questões, reflexões, interacções com os humanos.
Cada seminário será dedicado a um tema, a uma questão ou problema de relevância no âmbito desta AP, com o objectivo de ao longo dos 2 dias, renunciando ao máximo a modalidades logocêntricas do conhecer, estimularmos novas aprendizagens e novas relações cognitivas com a realidade abordada.
No contexto de um tempo geosocial marcado pela Antropoceno, quando se percebem não só as influências e os impactos da ação humana sobre tudo o resto, mas igualmente as interdependências ou fragilidades do humano face a esse mesmo resto, estes seminários afirmam-se igualmente na urgência e premência de questionar a centralidade do humano perante os outros bióticos e abióticos em tempos de aceleramento de uma história natural e social da qual somos senão parte integrante.
Organização conjunta do Agrupamento de Baldios da Serra do Gerês, Associação de Compartes de Campo do Gerês e a Uinversidade de Trás-os-Montes e Alto douro, com o apoio de entidades locais.
Comissão Organizadora e Científica
Humberto Martins (UTAD)
João Carvalho (UTAD)
José Carlos Pires (ABSG)